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Hippolyte
Léon Denizard Rivail, nascido em 03/10/1804
em Lion (França), já era, aos 18 anos, mestre
Colegial de Ciências e Letrase, desde os 20 anos, renomado
autor de livros didáticos, alcançando, pouco
mais tarde, notoriedade na profissão de educador, na
qual fora aprimoradamente preparado na Suíça.
Lingüista exímio, Denizard conhecia a fundo os
idiomas francês, alemão, inglês, italiano,
espanhol, além do holandês. As qualidades de
homem bom, gentil e jovial, aliavam-se seu refinado bom-senso
e seu discernimento criterioso, características marcantes
de sua personalidade de homem de saber.
Em 1855, como professor de francês,
aritmética, pesquisador de astronomia e magnetismo,
foi convidado por um amigo a assistir às manifestações
das chamadas mesas girantes, atrações públicas
que ocorriam nos salões da capital francesa. Rivail
era discípulo de Pestalozzi - chamado de o pai da pedagogia
moderna - e casado com Amélie Gabrielle Boudet. Deveras
já ouvira sobre o assunto das mesas girantes e não
entendia ao certo do que se tratava. Homem criterioso, Rivail
não se deixava levar por modismos e como cientista
estudioso do magnetismo humano acreditava que todos os acontecidos
poderiam estar ligados à ação das próprias
pessoas envolvidas, e não de uma possível intervenção
espiritual. O professor Rivail, então, participou de
algumas sessões e algo começou a intrigá-lo.
Percebeu que muitas das respostas emitidas através
daqueles objetos inanimados fugiam do conhecimento cultural
e social dos que faziam parte do "espetáculo".
Como os móveis, por si só, não poderiam
mover-se, fatalmente havia algum tipo de inteligência
invisível atuando sobre os mesmos, e respondendo aos
questionamentos dos presentes.
Rivail presenciava a afirmação
daqueles que se manifestavam, dizendo-se almas dos homens
que viveram sobre a Terra. Foi então, que uma das mensagens
foi dirigida ao professor. Um ser invisível disse-lhe
ser um Espírito chamado Verdade e que ele, Rivail,
tinha uma missão a desenvolver, que seria a codificação
de uma nova doutrina .
Atento aos dizeres do Espírito, e depois de muitos
questionamentos à entidade, pois não era homem
de impressionar-se com elogios, resolveu aceitar a tarefa
que lhe fora incumbida.
O Espírito de Verdade disse-lhe
ser de uma falange de Espíritos superiores que vinha
até aos homens cumprir a promessa de Jesus, no Evangelho
de João, capítulo XIV; versículos 15
a 26: "E eu rogarei ao Pai e ele vos dará outro
Consolador, para que fique convosco para sempre; o Espírito
de Verdade, que o mundo não pode receber, porque não
o vê nem o conhece; mas vós o conhecereis, porque
habita convosco e estará em vós... Mas, aquele
Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará
em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos
fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito".
Através dos Espíritos, Rivail descobriu que
em uma de suas encarnações anteriores foi um
sacerdote druida, de nome Allan Kardec.
Foi então que resolveu adotar este pseudônimo
durante a codificação da nova doutrina, que
viria a se chamar Doutrina Espírita ou Espiritismo.
Kardec assim procedeu para que as pessoas, ao tomarem conhecimento
dos novos ensinamentos espirituais, não os aceitassem
por ser ele, um conhecido educador que as estivesse divulgando.
Mas sim, que todos os que tivessem contato com a Boa Nova
a aceitassem pelo seu teor racional e sua metodologia objetiva,
independente de quem a divulgasse ou a apoiasse.
A Codificação
A partir daí foram 14 anos de organização
da Doutrina Espírita. No início,
para receber dos Espíritos as respostas sobre os objetivos
de suas comunicações e os novos ensinamentos,
Kardec utilizou um novo mecanismo, a chamada cesta-pião:
um tipo de cesta que tinha em seu centro um lápis.
Nas bordas das cestas, os médiuns, pessoas com capacidade
de receber mais ostensivamente a influência dos Espíritos,
colocavam suas mãos, e através de movimentos
involuntários, as frases-respostas iam se formando.
Julie e Caroline Baudin, duas adolescentes de 14 e 16 anos
respectivamente, foram as médiuns mais utilizadas por
Kardec no início.
Com o decorrer do tempo, a cesta-pião foi dando lugar
à utilização das próprias mãos
dos médiuns, fenômeno
que ficou conhecido como psicografia.
Todas as perguntas e respostas feitas por Kardec aos Espíritos
eram revisadas e analisadas várias vezes, dentro do
bom senso necessário para tal. As mesmas perguntas
respondidas pelos Espíritos através das médiuns
eram submetidas a outros médiuns, em várias
partes da Europa e América. Assim, o codificador viajou
por cerca de 20 cidades. Isso para que as colocações
dos Espíritos tivessem a credibilidade necessária,
pois estes médiuns não mantinham contato entre
eles, somente com Kardec.
Disto, estabeleceu-se dentro da Doutrina Espírita que
qualquer informação vinda do Plano Espiritual
só terá validade para o Espiritismo se for constatada
em vários lugares, através de diversos médiuns,
que não mantenham contato entre si, pois, assim, há
o controle sobre a veracidade das informações.
Fora isso, toda comunicação espiritual será
uma opinião particular do Espírito comunicante.
Com todo um esquema coerentemente montado, Allan Kardec preparou
o lançamento das cinco Obras Básicas
da Doutrina Espírita. O primeiro livro
da Codificação foi publicado em 18 de abril
de 1857: O Livro dos Espíritos. Posteriormente foram
lançados os demais, ou seja, O Livro dos Médiuns
(1861), O Evangelho Segundo o Espiritismo (1864), O Céu
e o Inferno (1865), e A Gênese (1868). Estes livros
contêm toda a teoria e prática da Doutrina, os
princípios básicos e as orientações
dos Espíritos sobre o mundo espiritual e sua constante
influenciação sobre o mundo material.
Durante a Codificação, Kardec lançou
um periódico mensal chamado "Revista
Espírita", no ano de 1858.
Nele, comentava notícias, fenômenos mediúnicos
e informava aos adeptos da nova Doutrina o crescimento da
mesma e sua divulgação. Servia várias
vezes como fórum de debates doutrinários, entre
partidários e contrários ao Espiritismo. A Revista
Espírita foi a semente da imprensa doutrinária.
No mesmo ano, Kardec viria a fundar a Sociedade
Parisiense de Estudos Espíritas. Constituída
legalmente, a entidade passou a ser a sociedade central do
Espiritismo, local de estudos e incentivadora da formação
de novos grupos.
Allan Kardec desencarnou em 31 de março de 1869, aos
65 anos, vítima de um aneurisma. Sua persistência
e estudo constantes foram essenciais para a elaboração
do movimento espírita e organização dos
ensinos do Espírito de Verdade. |